domingo, 6 de novembro de 2011

Primo rico, primo pobre

São Paulo, domingo, 06 de novembro de 2011

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Primo rico, primo pobre

Movimento de SP importa o modelo do "Ocupe Wall Street" sem suas causas nem seu poder de mobilização

FERNANDA MENA
EDITORA DA ILUSTRADA

De um lado, dezenas de barracas de acampamento ocupadas, em sua maioria por neo-hippies e neopunks.
Ao centro, uma cozinha improvisada. E ainda biblioteca, instalações artísticas e áreas de descanso e de debates. Tudo cercado por cartazes que invariavelmente mencionam os termos "capitalismo", "ação" e "sistema".
A descrição acima é do modelo de organização criado pelo movimento global "Occupy Together" e poderia ser atribuída a muitas das ocupações que ocorrem hoje em 2.306 cidades do mundo, de acordo com o site do grupo (occupytogether.org).
Ela se aplica, em versão bastante modesta, ao "Ocupa Sampa" (ou "Acampasampa"), que reúne cerca de 200 pessoas acampadas há 23 dias na área do vale do Anhangabaú coberta pelo viaduto do Chá, na região central de São Paulo.
O movimento importou o formato do pioneiro "Ocupe Wall Street", que desde 17 de setembro agrega centenas de pessoas no parque Zuccoti, em Nova York, onde a Folha esteve há duas semanas. Os ativistas têm como slogan "Injustiças perpetradas por 1% da população -elites política e econômica- afetam os outros 99%: nós".
Mas, se nos EUA há ações contra o sistema financeiro (campanhas em prol das cooperativas de crédito) e ambição de influenciar o Partido Democrata (assim como o Tea Party influencia o Partido Republicano), por aqui o alvo do movimento é tão sólido que se desmancha no ar.
Na falta de consequências graves da crise econômica global, caso da Europa e dos EUA, o movimento daqui se vê às voltas com os demônios brasileiros de sempre.
"Os problemas são tantos que ainda não chegamos a uma pauta. O Brasil vive em crise há muito tempo", diz Diego Torrão, 26. "É um movimento internacional que tem de dar conta de questões locais: exclusão, pobreza, corrupção. Estamos muito atrás."
Membro da "comissão de comunicação", ele trata dos "poucos jornalistas" que vão ao "Ocupa Sampa", enquanto em Wall Street uma "barraca de mídia" se desdobra para produzir vídeos, fotos e textos para a internet.
Com isso, o acampamento norte-americano foi convertido em ponto de peregrinação de turistas, ativistas e curiosos recebidos com panfletos explicativos pelos estandes de boas-vindas.
Na última sexta, o australiano Richard May, 32, apareceu para uma visita ao acampamento de São Paulo. "A vibração aqui é ótima. Mas as propostas são muito gerais. Não entendi direito."
Nos EUA, artistas e intelectuais apoiam a ocupação: estiveram lá o filósofo Slavoj Zizek, o diretor Michael Moore, a escritora Naomi Klein e até o rapper Kanye West.
No "Ocupa Sampa", poucos intelectuais foram ao Anhangabaú, entre eles, o professor de filosofia da USP e colunista da Folha Vladimir Safatle, que ministrou uma aula a céu aberto.
Além de barracas, cartazes e punks, nos acampamentos de São Paulo ou Nova York há muita música ao vivo. E ela é sempre ruim. Para um movimento político, isso deve ser um bom sinal.

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